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Cidades em Destaque
Postado dia 18/08/2014
Falta de emprego faz Centro-Oeste encolher nos últimos 13 anos
da Gazeta do Povo
O sorriso no rosto é o cartão de boas-vindas do agricultor José Marciano do Carmo, de 68 anos, conhecido como Zuquinha. Natural de São Paulo, ele chegou com 7 anos à cidade de Altamira do Paraná. Ali cresceu, conheceu a esposa – dona Almeri Vieira do Carmo, de 66 anos – e criou três filhos com o sustento tirado de um pequeno sítio deixado pelo pai. A propriedade é o endereço dele até hoje. Mas a vida tranquila na zona rural esconde um aperto no coração: “Eu amo esse lugar! O problema é estar longe das minhas filhas e das minhas netas. Meu sonho era envelhecer e ter meus filhos morando ao meu redor.”
Não deu certo. Seu Zuquinha tem seu filho, Paulo Silvan, morando ao lado com a esposa Nilza e três netos – os gêmeos Rafael e Rodrigo (18 anos) e o espoleta Gabriel (10). As duas meninas, Sirlene e Sirlei, ganharam o mundo e moram em Piracicaba (SP) – a primeira, enfermeira e mãe da Sofia e da Daniela; a segunda, técnica em enfermagem e mãe da Júlia. “Sinto uma saudade das meninas...”, disse ao contar que tinha ido recentemente visitá-las em São Paulo.
O agricultor não é o único na região a lidar com a saudade de familiares, principalmente filhos, longe de casa. O Centro-Oeste é a única região do Paraná em que houve declínio da população nos últimos 13 anos. Enquanto o número de habitantes do Paraná aumentou 11% entre o ano 2000 e 2013, no Centro-Oeste houve queda de 2% (veja infográfico). Com isso, houve diminuição na mesma proporção na densidade demográfica, ou seja, na quantidade de habitantes por quilômetro quadrado. Novamente, a única região a registrar o fato. Nas demais regiões do estado, aconteceram aumentos de população e densidade.
Em 2000, as 21 cidades do Centro-Oeste tinham juntas 346,6 mil habitantes. A estimativa do IBGE para 2013 é de 341,4 mil pessoas. Cerca de 5 mil moradores a menos. Na cidade de Altamira do Paraná, a queda foi maior ainda. O Censo de 2000 registrava 6.999 moradores. A estimativa para o ano passado era de apenas 3.754, 46% menor.
Dinamismo econômico
Em parte, a fuga de pessoas do Centro-Oeste deve-se a falta de emprego e da pouca diversificação econômica, baseada na agricultura. A região é a segunda pior empregadora do estado com 63,5 mil carteiras assinadas – 19% da população no total, enquanto a média do Paraná é de 29%, segundo dados de 2012 do Ministério do Trabalho.
Criar novos negócios para diversificar a economia é uma das maneiras de reverter a fuga de pessoas. “Não podemos viver só de Coamo”, acredita o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campo Mourão, Nelson José Bizoto. A empresa citada pelo empresário é uma gigante do agronegócio e que tem sede na cidade. A cooperativa teve receitas de R$ 8,1 bilhões e comercializou 6,8 milhões de toneladas de produtos agrícolas em 2013 – 3,6% da produção brasileira de grãos e fibras, segundo a própria empresa.
A Coamo é uma das maiores empregadoras da região, mas o Centro-Oeste precisa de mais. “Muita gente sai das cidades menores, principalmente, os mais jovens e vão para cidades maiores e não voltam. As mães comentam que as cidades pequenas vão ser cidades só de aposentados”, lamenta a coordenadora da Pastoral da Criança na região, Cleonice Aparecida Pavan Teixeira.
Para piorar, Seu Zuquinha quase viu os netos gêmeos irem embora neste ano. Eles pensavam em mudar-se para São Paulo junto com as tias. “Aqui não tem tanto emprego”, diz Rafael. Uma cooperativa se instalou na cidade no ano passado e em janeiro deste ano abriu vagas de emprego. A empresa contratou os gêmeos e o trabalho novo manteve os meninos perto do avô. “Poderia melhorar a geração de emprego tanto na cidade como para a agricultura, para ter uma renda melhor. A vida no sítio é divertida, mas é sofrida”, resume Zuquinha.
Para Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o governo que enfrentar o problema da perda populacional do Centro-Oeste pode gerar soluções que beneficiem todo o estado, já que as previsões apontam que o Paraná poderá perder população em algumas décadas. “Vamos precisar crescer em produtividade e não só ao acrescentar novas populações ao mercado.”
Capítulos de uma estrada sem fim
A conclusão de 200 quilômetros da BR-487, conhecida como Estrada da Boiadeira, entre a cidade de Campo Mourão e Porto Camargo – na divisa entre Paraná e Mato Grosso do Sul – é uma novela em capítulos. A exibição do enredo se arrasta desde a década de 80. As cenas comuns são anúncios de obras e, em seguida, o cancelamento delas. Vez ou outra há uma inauguração de um trecho concluído.
Em janeiro desse ano, por exemplo, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) anunciou a licitação para a contratação de obras de dois trechos: Porto Camargo a Serra dos Dourados (44 Km) e dali até Cruzeiro do Oeste (37 Km). Por e-mail, a assessoria de imprensa do órgão informou em julho que o procedimento foi cancelado “devido à necessidade de revisão dos anteprojetos que servirão de base para o desenvolvimento dos projetos desses lotes, pois na modalidade em que serão licitados (RDC – Integrado) as mesmas empresas vencedoras das licitações desenvolverão primeiro o projeto e, depois, executarão as obras.”
Em 2010, a reportagem da Expedição Paraná já mostrava as idas e vindas das promessas de conclusão da Estrada Boiadeira. O agricultor Sebastião Rodrigues foi mostrado na reportagem e esperava há 20 anos o asfalto em frente ao sítio dele. Havia até vendido 15 vacas leiteiras porque nem sempre o caminhão do laticínio conseguia chegar à propriedade. Até hoje, o asfaltamento completo do trecho entre Tuneiras do Oeste e Campo Mourão não saiu. Neste ano, o agricultor não foi encontrado.
Segundo o Dnit, os 20 quilômetros entre Tuneiras do Oeste e Nova Brasília estariam em obras. Em outubro do ano passado, um trecho de 18 quilômetros, entre Cruzeiro do Oeste e Tuneiras do Oeste, foi concluído.