Norte do Paraná

Postado dia 08/11/2016 às 19:28:57

Golpes contra quem ajuda pacientes com câncer

Há pessoas que usam sentimentos como a piedade para estabelecer relações com as pessoas com o objetivo de aplicar golpes. O estelionatário sensibiliza a vítima para obter vantagem. Em muitos casos, o prejuízo financeiro causado é grande. No início de outubro uma empresária do ramo de beleza de Apucarana (Centro-Norte) denunciou à Polícia Civil que uma pessoa estaria mobilizando amigos e moradores da cidade para arrecadar dinheiro por intermédio de eventos e ações beneficentes para pagar os custos de um suposto tratamento de leucemia. Porém há suspeitas de que ela não tem a doença. 

A denunciante foi uma das pessoas que acreditou na história que a suposta estelionatária contou. Ela ajudou a organizar uma macarronada beneficente em prol da suposta paciente. O evento foi realizado no fim de setembro no Clube de Campo Água Azul e reuniu mais de 500 pessoas. O convite foi vendido a R$ 20. 

O dinheiro seria utilizado para bancar uma cirurgia no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. No entanto, depois da data da cirurgia, a suposta paciente não aparentava ter sido submetida a qualquer intervenção cirúrgica ou quimioterapia, o que levantou a desconfiança da empresária. 

Entre os dias 26 a 29 de setembro, período em que supostamente estaria no Albert Einstein, ela não teria ficado internada no hospital. A assessoria de comunicação informou à reportagem que não está autorizada a dizer se a paciente foi internada no período referido. O hospital afirmou apenas que não havia nesta segunda-feira (7) nenhuma paciente internada com esse nome. 

Segundo o delegado-chefe da 17ª Subdivisão Policial, José Aparecido Jacovós, a constatação veio de outra forma. No dia 28 e 29, a suspeita estava registrada como hóspede em um hotel em Curitiba. Ela também revelou que tinha sido internada no Hospital do Câncer de Londrina, o que também não teria ocorrido. 

Segundo o delegado, a suposta paciente afirma que usou um helicóptero do Batalhão da Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA) para ser transportada de Curitiba a Londrina. "Se ela utilizou uma aeronave oficial, isso torna a situação muito mais grave, pois a aeronave poderia ser usada em outra necessidade", destacou. Há suspeita de que o marido dela, um policial militar, tenha participado da irregularidade. 

O comandante do BPMOA, coronel Adonis Nobor Furuushi, relata que foi aberto inquérito para apurar o caso. "Por parte do batalhão, eu fiquei surpreso. O capitão do batalhão está levando adiante essa investigação e, se houver culpa, o soldado será responsabilizado", declarou. O coronel ressalta que o atendimento teve entrada pelo Samu. "A investigação durará 30 dias e caso a denúncia seja confirmada, o soldado pode ser expulso e responsabilizado na Justiça, tanto na esfera criminal quanto na cível. A PM não aceita nenhum desvio de conduta", afirmou. 

Jacovós acrescenta que foram realizados outros eventos beneficentes, como feijoada e venda de pães de queijo, e que o valor arrecadado pode superar R$ 18 mil. "Ela foi ouvida no dia 13 do mês passado e no dia 14, um dia depois de ser ouvida na delegacia, contou outra história para o médico do Instituto Médico-Legal. Disse que um médico a levou a Curitiba, que a teria dopado e que está sendo vítima de golpe", revelou o delegado. A suspeita alegou também que estaria sendo cobaia de um tratamento com células-tronco que envolve sigilo. De acordo com Jacovós, a suspeita será indiciada por estelionato e interrogada novamente na próxima quarta-feira (9). "As demais pessoas envolvidas também serão indiciadas", adiantou. 

Segundo Antônio Conti, administrador da ONG Viver, que oferece apoio a crianças e adolescentes com câncer em Londrina, a aplicação de golpes utilizando o nome do Hospital do Câncer de Londrina e da ONG é "muito comum". "As pessoas têm que investigar, ligar e ver para quem estão doando e se o dinheiro está indo para o objetivo arrecadado. Sempre tem pessoas que ligam nas casas usando o nome da ONG Viver, mas não são da ONG", advertiu. "Pedimos que as pessoas venham para a ONG conhecer a casa. A nossa ONG está sempre de portas abertas. Muitas instituições que pedem doação em Londrina você nem consegue achar o endereço para fazer a visita e, caso o endereço exista, nunca ninguém está lá", criticou. 

Conti acredita que a notícia do suposto golpe em Apucarana pode afetar a arrecadação de doações. "Quando acontece algo assim sempre é negativo e tem uma consequência. Vamos esperar o impacto, pois quando se fala em doações a credibilidade é fundamental. Em Londrina acreditamos que não será tão afetado, pois todos já conhecem a ONG e sabem que é uma instituição séria, mas a arrecadação em Apucarana pode sofrer uma queda", apontou. 

O delegado-chefe da 10ª Subdivisão Policial, Sebastião Ramos dos Santos Neto, orienta que as pessoas não realizem doações a não ser para instituições reconhecidas e que tenham CNPJ. "Se for ações entre amigos, a pessoa já sabe do caso e conhece a pessoa doente - o círculo é mais fechado. Isso minimiza a possibilidade de fraude", aconselhou. A reportagem não conseguiu o contato da suspeita nem do advogado dela. 

A responsável pela denúncia, que preferiu não ter a identidade divulgada, disse que tudo o que era arrecadado nas campanhas era destinado à suposta paciente. "Apenas peço que as pessoas não parem de ajudar o próximo, já que existem milhares de pessoas que realmente precisam", declarou.

por Vítor Ogawa, da Folha de Londrina

 


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