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Postado dia 22/02/2017 às 04:44:23

Crise no Brasil gera nova onda de emigração para o Japão

O Japão está voltando a ser a terra das oportunidades para brasileiros em busca de trabalho no exterior. Destino de muitos descendentes de japoneses que deixaram o Brasil para trabalhar na indústria nipônica em décadas passadas, o país está novamente atraindo mão de obra brasileira, com vagas em indústrias, serviços, rede hoteleira e obras de estrutura para os Jogos Olímpicos de 2020.

Somente no segundo semestre do ano passado, 15 mil a 20 mil brasileiros deixaram o Brasil rumo ao país do sol nascente, conforme estimativa da Associação Brasileira de Dekasseguis (Abdnet). Desse montante, pelo menos 10% - ou 1,5 mil pessoas – são da Região Norte do Paraná. Ainda conforme a Abdnet, atualmente 190 mil brasileiros vivem como dekasseguis no Japão. No auge do movimento migratório, em 2008, esse número chegou a 320 mil pessoas. "Muita gente veio embora para o Brasil depois do tsunami em 2011", justifica o presidente da Abdnet, Teichum Hiramatsu. 

Segundo ele, esse movimento de volta ao Brasil permaneceu até 2014, motivado também pelo desaquecimento da economia japonesa. "Hoje a situação se inverteu. Com a crise na economia brasileira, muitas empresas fecharam, aumentou o desemprego... Por outro lado, a situação econômica do Japão melhorou e o dólar está favorável para quem trabalha no exterior. Isso incentivou o aumento de dekasseguis", aponta, destacando que esse movimento começou a ganhar força em 2015. 

O perfil dos trabalhadores é variado. Conforme Hiramatsu, muitos são brasileiros que já viveram a experiência e decidiram voltar, mas também há uma parcela viajando pela primeira vez. "Com as obras da Olimpíada, os japoneses continuam interessados nos brasileiros", diz. 

Indústrias automotivas e eletrônicas, empresas na área de alimentação e hotéis são setores que estão contratando. "Não tem mais necessidade de muitas horas extras, como no início dos anos 2000, mas a tendência é melhorar. As agências brasileiras estão bastante ativas e os dekasseguis já saem do Brasil com contratos de até cinco anos", antecipa. A recomendação para viver uma boa experiência em terras japonesas é se integrar à cultura local. "Quem fica muito isolado tem menos chance de sucesso", avisa. Falar a língua é outra habilidade que garante oportunidades, visto que abre portas para empregos mais qualificados. 

EXPERIÊNCIA

A londrinense Débora Sugay, de 29, mudou para o Japão em 2005 após ter sido reprovada no vestibular. "Vim com o objetivo de ficar no máximo dois anos, juntar dinheiro para a faculdade e retornar", contou ela, que viajou porque os pais já estavam no Japão há um ano. 

Como muitos brasileiros, os planos de retornar rapidamente ao Brasil não se concretizaram. "As pessoas acabam perdendo seus objetivos, ficam com medo de não conseguir entrar no mercado de trabalho brasileiro, que já é concorrido para quem continua estudando e trabalhando no País. Outros formam família e acabam optando por levar essa vida de trabalhador em fábricas", opina. Ela trabalha em uma fábrica de autopeças e se "acomodou" diante da maior facilidade para guardar dinheiro. 

Débora mora com o namorado e tem uma rotina baseada no trabalho. "Aos fins de semana prefiro descansar, pois o ritmo de vida é muito acelerado. De vez em quando consigo ver meus familiares e amigos, mas como cada um tem um horário e calendário de serviço diferente, os encontros não são frequentes", relata. 

Ela aponta como vantagens de viver no Japão a segurança, o acesso à saúde, a pontualidade e a ausência de burocracia, além, claro, da maior facilidade para ganhar dinheiro. Já as desvantagens são inerentes às longas jornadas de trabalho, à rotina estressante e o preconceito dos japoneses com os estrangeiros. "Além disso, estamos sempre divididos entre Brasil e Japão, porque precisamos nos manter aqui pensando em juntar dinheiro para um dia poder voltar", diz. 

Retornar ao Brasil, aliás, é um plano que Débora mantém, mas entende que não será em breve. "Tenho muitos amigos que retornaram e no momento me dizem pra aguentar mais um pouco aqui, pois a vida no Brasil está muito difícil. Quem tem condições de voltar para cá está vindo sem pensar duas vezes e muitos optam por morar no Japão em definitivo", conta. 

A nutricionista Carla Vanessa Araki Coutinho, de 33 anos, planeja fazer o caminho contrário. Depois de fechar a microempresa de fornecimento de marmitas que mantinha em Londrina, ela passou dez meses no Japão, no ano passado, para conhecer a realidade do país e economizar dinheiro para trazer de volta ao Brasil. Incentivada por uma tia, deixou o marido e os filhos Pedro, de 6 anos, e Lucas, de 4, para conhecer as oportunidades oferecidas aos trabalhadores brasileiros. "Meu plano é voltar com a família toda até o final de 2017", revela. 

Durante a temporada em uma empresa do ramo alimentício, ela chegou a trabalhar de 12 a 17 horas por dia. Apesar da rotina puxada, considera que foi uma boa experiência, o que a motiva a voltar. "Meu maior incentivo é a reforma da Previdência aqui no Brasil. Se continuar aqui, não vou me aposentar nunca", acredita. 

A ideia de Carla é trabalhar no Japão até a aposentadoria e educar os filhos por lá. "Quero que terminem o ensino médio no Japão e depois decidam se querem ficar lá ou voltar. Ainda estou avaliando essa possibilidade com meu marido, mas a tendência é que a gente vá", conta. No Japão, entretanto, ela quer apenas ter um emprego. "Já tive uma microempresa no Brasil, é muito caro e burocrático. Não tenho mais intenção de empreender."

por Carolina Avansini, da Folha de Londrina


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