“O exemplo que gosto de dar é: se você estiver caminhando em uma área de alta incidência de crime e pegar um atalho através de um beco escuro, e então ver uma caixa de correio nas proximidades, você pode ficar nervoso quando quiser envie algo [por correio] mais tarde”, Schacher explica. No exemplo, o medo de becos sombrios é uma memória associativa que fornece informações importantes – por exemplo, que becos escuros podem ser perigosos – com base em uma experiência anterior, da própria pessoa ou de outras. O medo das caixas de correio, no entanto, é uma memória incidental, não associativa, que não está diretamente relacionada ao evento traumático, mas que pode desencadear uma sensação estressante sempre que a lembrança for resgatada.
Memórias
O cérebro cria memórias a longo-prazo fortalecendo as conexões entre os neurônios e mantendo-as com o passar do tempo. Estudos anteriores sugeriram que o aumento na força das sinapses – essas conexões entre as células neurais – compartilha propriedades muito parecidas em memórias associativas e não associativas. Por isso, eliminar seletivamente alguma lembrança seria praticamente impossível, pois, para qualquer neurônio, o mesmo mecanismo seria responsável por manter todas as formas de memória.
O objetivo do estudo desenvolvido por Schacher e sua equipe era testar essa teoria, estimulando dois neurônios sensoriais extraídos de um mesmo neurônio motor de um caracol, pertencente ao gênero Aplysia. Um dos neurônios sensoriais foi estimulado para induzir uma memória associativa e outro para resgatar uma memória não associativa. Ao medir a força entre as conexões, os pesquisadores perceberam que elas eram mantidas por formas diferentes da mesma enzima, a proteína quinase M (PKM, na sigla em inglês). Assim, eles descobriram que, ao bloquear uma das proteínas, a memória que normalmente seria ativada poderia ser apagada sem que a outra sofresse qualquer alteração.
Além disso, eles descobriram que memórias sinápticas específicas também podem ser apagadas bloqueando a função de outras moléculas que ajudem a produzir PKMs ou protejam as enzimas de serem quebradas.
Segundo os pesquisadores, os vertebrados possuem versões semelhantes das proteínas PKM encontradas nos caracóis, que participam da formação de memórias de longo prazo. Por isso, o estudo poderia, no futuro, ser aplicado também à memória humana.
de VEJA