Política

Postado dia 26/11/2020 às 22:36:38

Cidade do Paraná elege único prefeito autodeclarado preto do Sul do país

único prefeito eleito no Paraná e no sul do país que se autodeclarou preto nas eleições municipais deste ano conta que foi vítima de preconceito por diversas vezes, mas que essas situações o motivaram, o estimularam a seguir na carreira política.

 

“Quando chego nos lugares com o meu vice, que é branco, as pessoas vão direto nele achando que ele é o prefeito. Na primeira vez que fui para Curitiba e isso aconteceu fiquei chateado, mas depois usei isso como motivação”, contou Adauto Mandu.

 

 Adauto Mandu, do Podemos, foi reeleito prefeito de Lidianópolis, município que fica no norte do Paraná, com 82,2% dos votos. A cidade tem 3.972 moradores, e ele recebeu 2.180 votos. Antes de ser prefeito, também foi o primeiro vereador negro da cidade.

 

“Não tenho vergonha da minha cor, é a realidade. Não podemos ficar escondendo a cor da pele, achar que isso é um problema. Precisamos acreditar em nós mesmos e irmos atrás dos nossos objetivos. Somos todos iguais”, disse o prefeito.

 

 Conforme dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Paraná somente 24 candidatos a prefeito que disputaram as eleições municipais se autodeclararam pretos. Apenas Adauto Mandu foi eleito.

Em Santa Catarina oito candidatos a prefeito declararam que são pretos, nenhum deles foi eleito. 

No Rio Grande do Sul, 11 candidatostambém a prefeitos declararam ao TSE que são pretos, e assim como em Santa Catarina, nenhum deles foi eleito.

Para a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Maria Nilza da Silva, os números são um retrato da desigualdade social, dos estigmas relacionados à pessoa negra e de uma sociedade que ainda inferioriza a pessoa por causa da cor da pele.

 

“Para que a sociedade vote em uma pessoa negra ela precisa superar os estigmas morais, éticos e de conhecimento relacionados aos negros. Para mudar isso, é preciso que todas as instituições lutem contra o racismo, que as pessoas superem o preconceito que está interiorizado e que a própria população negra acredite no seu potencial”, destacou a professora titular de Sociologia da UEL.

 

 O prefeito de Lidianópolis afirma que por mais que as pessoas neguem que há racismo na sociedade, as atitudes de muitas demonstram o contrário.

Mandu lembra que foi chamado de macaco por um policial durante um evento esportivo na cidade e que também foi confundido como segurança ou motorista da prefeitura.

“Um dia fui dirigindo o carro da prefeitura até uma obra e o secretário municipal de Agricultura, que é branco, estava ao meu lado. Chegamos lá e uma pessoa achou que eu era o motorista da prefeitura. Em outra ocasião, em um evento do partido, fui confundido como segurança. Essas situações levo na esportiva”, detalhou Adauto Mandu.

O prefeito reeleito de Lidianópolis lembrou que, recentemente, também não foi identificado em um evento político. Somente depois do vice-prefeito dizer quem ele era é que passou a ser tratado como chefe do Executivo Municipal.

 

Trabalho contra o racismo

 

Para os pesquisadores, as ações afirmativas, como cotas para negros na educação, na política e no mercado de trabalho, são extremamente necessárias para superar as desigualdades.

 

“Como pessoa negra, não existe possibilidade de não ser atingida pelo racismo. É importante ressaltar que não existe possibilidade de superar a desigualdade esperando o tempo passar. As desigualdades vão se reproduzindo ao longo do tempo. Precisamos de políticas e de ações para acabar com o pensamento racista”, afirmou Maria Nilza da Silva.

 


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