Política

Postado dia 20/12/2021 às 17:02:29

Articulações do ex-ministro José Dirceu incomodam direção do PT

A intensa movimentação política do ex-ministro José Dirceu nos últimos meses tem incomodado integrantes da direção do PT. Só neste semestre, o ex-todo poderoso chefe da Casa Civil visitou 11 estados, esteve com ao menos um governador não petista, se reuniu com ex-ministros e manteve conversas com dirigentes de outros partidos que discutem apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2022.

Internamente, a avaliação é que Dirceu resiste a se desapegar da função de articulador político que exerceu no passado, antes de ser envolvido nos escândalos do mensalão e da Lava-Jato.

Apesar do incômodo com as movimentações, lideranças petistas preferem não confrontar Dirceu publicamente. Às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, o ex-ministro já havia provocado desconforto ao afirmar, em entrevista ao “El País”, que “é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

O então candidato Fernando Haddad passou a ser questionado sobre a declaração e foi obrigado a desautorizar o ex-ministro no começo do segundo turno para conter o desgaste que a fala vinha provocando. Há temor no partido de que um episódio semelhante possa ocorrer na eleição de 2022.

Integrantes da cúpula do PT dizem que Dirceu não tem aval da direção para as articulações que tem feito. Mesmo assim, nas suas andanças, o ex-ministro tem tratado de temas que também estão na pauta da direção partidária.

Segundo o presidente do PV, José Luiz Penna, Dirceu esteve em sua casa em Brasília no começo do mês e discutiu a possibilidade de a legenda integrar uma federação partidária com o PT. Uma semana depois, na última quinta-feira, o diretório nacional petista aprovou uma resolução para formalizar a abertura de conversas para uma união com PSB, PCdoB, PV e PSOL. Uma liderança de outro partido que discute aliança com o PT também relatou, de forma reservada, ter sido procurado pelo ex-ministro da Casa Civil.

No dia 6 de dezembro, Dirceu se reuniu, em Belo Horizonte, com Saraiva Felipe e Anderson Adauto, ex-ministros mineiros do primeiro governo Lula. Felipe é filiado ao MDB, e Adauto está sem partido. Ambos têm manifestado a intenção de apoiar o ex-presidente em 2022. 

O encontro de Dirceu que mais chamou a atenção de seus colegas de partido foi com o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), em novembro. Apesar de o PT ter interesse de atrair o PSD para a aliança de Lula, Ratinho é alinhado com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Questionado sobre qual foi a intenção da conversa, o ex-ministro respondeu que não houve “nenhum objetivo concreto”. Procurado, o governador não comentou.

Na mesma viagem, Dirceu participou de uma “reunião ampliada” com o PT do Paraná que teve cobertura nas páginas do diretório estadual nas redes sociais — as eleições de 2022 foram o tema do encontro. Em agosto, o ex-ministro já havia se reunido com o diretório petista do Rio.

Dirceu também faz questão de frisar que não promove articulações em nome do PT no giro pelo país:

— Minhas viagens são de cunho pessoal. Não falo em nome da direção nem tenho delegação ou mandato para fazê-lo, muito menos do Lula — afirma.

O ex-ministro diz que já tinha uma rotina de viagens antes da pandemia e que aproveita as agendas para fazer debates e palestras:

— Creio que conquistei o direito de fazer política e viajar pelo Brasil. Não é de hoje que viajo. Entre 2018 e 2020, visitei 22 capitais e 60 cidades fazendo exatamente o que fiz nesse semestre visitando 11 estados.

O ex-ministro deixou a cadeia em novembro de 2019, no mesmo dia que Lula. Anteriormente, ele já havia sido preso duas vezes pela Operação Lava-Jato. Ele foi condenado duas vezes, mas recorre em liberdade.


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