Política

Postado dia 09/08/2022 às 15:41:22

‘Clãs políticos’ chegam rachados à eleição, e familiares se espalham por chapas rivais

Famílias de políticos com bagagem em eleições chegam rachadas neste ano às disputas estaduais por cargos no Executivo e no Legislativo. Em estados das regiões Norte e Nordeste, os planos de candidatos com parentesco acabaram gerando conflitos ou precisaram ser acomodados em palanques distintos, sem que possam pedir votos formalmente um pelo outro. Parlamentares bolsonaristas, por sua vez, buscam alavancar candidaturas de parentes com “dobradas”, tentando aproveitar a própria visibilidade dentro do eleitorado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um dos principais rachas ocorre no Ceará, onde o presidenciável Ciro Gomes (PDT) articulou pela candidatura do correligionário Roberto Cláudio ao governo, no lugar da atual governadora Izolda Cela, também do PDT. O prefeito de Sobral, Ivo Gomes, criticou o movimento do irmão e, na semana passada, declarou que “simplesmente não existe” o apoio de outro membro da família, o senador Cid Gomes (PDT-CE), à candidatura de Cláudio. A manifestação de Ivo ocorreu após o PDT cearense impugnar uma pesquisa eleitoral com a alegação de que o questionário, ao elencar apoiadores dos candidatos, deveria incluir Cid como aliado de Cláudio, junto a Ciro.

Também há conflito no Rio Grande do Norte, estado em que a atual governadora, Fátima Bezerra (PT), incluiu dois membros da família Alves em sua chapa: o deputado federal Walter Alves (MDB), candidato a vice, e o ex-governador Carlos Eduardo Alves (PDT), indicado para concorrer ao Senado. Walter é filho do ex-senador Garibaldi Alves Filho (MDB), candidato a uma vaga na Câmara, e primo de Carlos Eduardo. Ex-presidente da Câmara e outro representante da família, Henrique Eduardo Alves deixou o MDB e filiou-se ao PSB para também concorrer a deputado federal. O PSB, que também lançou candidato ao Senado, acabou rifado da chapa do PT. 

Ao anunciar a mudança de partido, em março, Henrique Alves disse que o MDB “se apequenou”, numa indireta a Carlos Eduardo e Garibaldi – derrotados em 2018 ao concorrerem ao governo e ao Senado, respectivamente. Recém-saído de prisão domiciliar e réu da Lava-Jato à época, Henrique optou por não concorrer naquele ano. Garibaldi – também alvo da Lava-Jato –, por sua vez, acusou o primo de prejudicar a candidatura de Walter Alves à Câmara na última eleição, e disse que buscará tirar votos de Henrique na disputa deste ano. Na convenção do PSB, há uma semana, Henrique voltou a mandar recados velados aos primos:

– Quando procurei uma nova casa, com o caráter que eu pudesse me orgulhar, encontrei no PSB meu novo partido de corpo e alma. Chego aqui sem ódio e sem medo – discursou.

No Acre e no Tocantins, arranjos de última hora colocaram parentes em chapas distintas. Após romper com o governador acreano Gladson Cameli (PP), o senador Márcio Bittar (União), aliado do governo Bolsonaro no Congresso, se lançou candidato ao governo, com o correligionário Alan Rick concorrendo ao Senado. Rick havia entrado em acordo para ser vice de Cameli na disputa pela reeleição, movimento que irritou Bittar, que tentava indicar a esposa, Márcia Bittar (PL), para o cargo.

Para evitar ter a candidatura envolvida por disputas internas do União, Márcia acabou lançada ao Senado em outra chapa, da candidata ao governo Mara Rocha (MDB). Em convenção na última sexta-feira, ela afirmou que pedirá votos para a candidata do MDB, embora o marido concorra ao mesmo cargo. Mas reiterou que o “mentor da aliança” foi o “senador Márcio”.

No Tocantins, enquanto a senadora Kátia Abreu (PP) lançou uma candidatura isolada para tentar a reeleição, o senador Irajá Abreu (PSD), seu filho, formalizou na sexta-feira sua candidatura ao governo com apoio de Avante e PRTB. Irajá tem acenado com um apoio informal à mãe. Kátia, por sua vez, tem se mantido reticente em relação à candidatura do filho, e reforçado que concorre de forma “independente”. No início de julho, Irajá foi o estopim do rompimento de Kátia com o grupo do governador Wanderlei Barbosa (PP), ao declarar apoio a outro candidato ao Executivo.

Há também na região Norte casos em que familiares dividem os postos da mesma chapa majoritária. Em Rondônia, os irmãos Ivo e Jaqueline Cassol, ambos do PP, se lançaram candidatos ao governo e ao Senado, respectivamente. Já em Roraima, o ex-senador Romero Jucá (MDB) lançou sua candidata ao Senado na chapa da ex-mulher, Teresa Surita (MDB), que concorre ao governo.

Em outros estados, parentes concorrerão como "suplentes" ao Legislativo de integrantes da família que se lançaram a cargos majoritários. No Rio, por exemplo, a deputada federal Clarissa Garotinho (União) disputará o Senado, enquanto o pai, o ex-governador Anthony Garotinho, pretende manter a representação da família na Câmara. Já os deputados federais Capitão Wagner (União) e João Roma (Republicanos), candidatos aos governos de Ceará e Bahia, respectivamente, lançaram candidaturas de suas esposas à Câmara: Dayany Bittencourt (União), que concorrerá com o nome “Dayany do Capitão” na urna, e Roberta Roma (PL).

Na bancada bolsonarista na Câmara, nomes como Carla Zambelli (PL-SP), Otoni de Paula (MDB-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ) tentarão, além da própria reeleição, emplacar parentes no Legislativo. Zambelli fará campanha em São Paulo ao lado do irmão, Bruno (PL), que tenta uma cadeira de deputado estadual, e pode tornar-se ainda colega do marido, o coronel Aginaldo Oliveira, na Câmara. Ex-chefe da Força Nacional, o coronel concorrerá à cadeira de deputado federal pelo PL no Ceará. Otoni e Jordy tentarão eleger, respectivamente, o pai, também chamado Otoni de Paula (MDB), e o irmão, Renan Jordy (PL), à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

O ex-juiz Sergio Moro e a mulher, Rosângela Moro, ambos filiados ao União Brasil, também concorrerão ao Congresso numa espécie de “dobradinha”, mas por estados distintos. Enquanto Moro se lançou ao Senado pelo Paraná, Rosângela concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo.

Para o cientista político e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sérgio Praça, ser familiar de um político já eleito não é garantia de sucesso nas urnas.

— Além de ser "irmão" ou "agregado" de um político famoso, é necessário entrar na rede de financiamento (seja partidário ou não) desse político para conseguir ter a mínima chance de eleição. E nem todos os parentes e agregados conseguem entrar nessas redes — explica.

 


comente esta matéria »

Copyright © 2010 - 2024 | Revelia Eventos - Cornélio Procópio - PR
Desenvolvimento AbusarWeb.com.br