Nova Santa Bárbara

Postado dia 15/03/2012

Como funciona uma equipe de atletas africanos no Brasil

 atleta Eunice Kirwa

do Webrun

Cada vez mais os fundistas quenianos marcam presença em provas de rua no Brasil. Não é segredo que o Quênia é o maior produtor de corredores de alto nível no mundo, mas por que vemos tantos e tantas vezes no País? Na segunda reportagem da série de corredores africanos no Brasil, conheça a equipe MMC.

Moacir Marconi ficou conhecido como Coquinho em sua época de corredor profissional – 1974 a 1995. As iniciais de seu nome e apelido dão o nome de sua equipe, a MMC. Um dos brasileiros na Maratona do Mundial de Atletismo de 1987, em Roma, Coquinho fez o melhor tempo de sua carreira em 1979, também na capital italiana.

“Fiz em 2h13min, um dos 20 melhores tempos de brasileiros até hoje”, conta o ex-corredor. Mas apesar de correr muitas provas na Itália, nos Estados Unidos e na Suiça, sua melhor recordação é da Meia Maratona Sete de Setembro, em São Paulo.

“Era a mais importante prova no País depois da São Silvestre, também largava e terminava em frente à Gazeta, ia até o Aeroporto (de Congonhas). Eu era o rei dela, sempre estava no pódio”, conta o vencedor da edição de 1986.

Origem

Quando morou nos Estados Unidos e posteriormente na Itália, em fim de carreira, Coquinho treinou e agenciou corredores brasileiros. “Na minha lua-de-mel, por exemplo, tinham onze caras dentro da minha casa”, lembra. Quando se aposentou, passou a trazer africanos para o Brasil.

“Inverti o que fazia lá fora. O [italiano] Federico Rosa, um dos mais antigos e importantes agentes do mundo, disse que poderia me ajudar e começamos. Ele me enviava atletas, eu passei a fazer o meu grupo, consegui um espaço em Nova Santa Bárbara (PR), arrumei a casinha para os corredores e começou a evoluir”, explica.

Os atletas da MMC normalmente correm com os uniformes da Fila. “Eu assessoro os atletas com patrocínio da marca. É a Fila que dá o material esportivo e as passagens”, revela o treinador.

Seleção

Coquinho (ao centro), com quênianos e tanzanianos

O agente fica em média 15 dias por ano no país africano. Nesse período, cumpre obrigações legais e seleciona alguns de seus corredores. “Sou registrado na federação queniana, tenho uma reunião anual com eles. Dois dias depois tem a eliminatória de cross country para o Mundial, então assisto para ver se tem algum talento que ainda está sem agente”, explica.

Coquinho organiza ainda uma prova de dez quilômetros em Kapsabet (a 1900 metros de altitude, na província de Rift Valley), onde garimpa fundistas. “Neste ano tirei cinco moleques de lá que são feras. Também mantenho uma casa lá onde moram a Eunice [Kirwa, rosto comum em provas brasileiras] e o Joshua [Kemei, marido de Eunice]”, complementa.

O próximo passo é montar um centro de treinamento em Iten, a meca dos fundistas – é o principal local de treinamento no Quênia, a 2.400 metros de altura. “Em Iten você vai na pista e tem muita gente treinando, europeus, chinês, o diacho”, ilustra.


Remuneração

Coquinho explica que 30% do valor de premiação que os africanos ganham no Brasil é retido na fonte como imposto. “Para estrangeiro é assim, é uma obrigação da organização”, conta. Do restante, 15% fica com o agente e o resto é do atleta.

Ele ainda trabalha em parceria com Federico Rosa. “A Paskalia (Chepkorir), que venceu a Meia de SP (04/03), é ‘dele’. Ele me indica, ela compete aqui e percentual do que ela ganha é meu. Como ele tem muitos atletas, às vezes alguns ficam sem atividade, então eu trago e ela corre por mim – em troca disso ele me ajuda a colocar dois atletas para correr em Portugal, por exemplo”, esclarece, citando que Mark Korir e Eunice Kirwa vão competir na Europa.

Quênia, a super-potência

Mark Korir, com Coquinho

Na opinião do agente-treinador, são dois grandes fatores que explicam o sucesso queniano em provas de fundo. O primeiro seria uma “cultura fundista”. “Isso eles tem como cultura, como trabalho. O país não tem emprego, é muito carente. Mas o principal é a genética, eles tem mais quantidades de fibras brancas e treinam na altitude a 2.400 metros”, analisa.

“Automaticamente a hemoglobina vai lá em cima, eles vão ter maior oxigenação. E eles treinam muito, tem que ir lá para ver porque é algo que só se acredita vendo. Em uma só pista de atletismo tem 200 caras treinando, não dá para acreditar, é lindo”, relata Coquinho, empolgado.

A disciplina é um diferencial dos fundistas do leste africano, segundo o treinador. “Eles já são educados por si próprios, com horário e alimentação. Se vejo algo que não gosto, chamo a atenção, a gente faz um trabalho muito profissional e educativo”. Em sua Casa do Quênia, no interior paranaense, o jantar é feito pelos próprios atletas. “Eles fazem porque não abrem mão disso, é uma polenta tradicional deles”.

Sua aposta para este ano em terras brasileiras é o tanzaniano Ismaili Gallet. “Você vê que ele tem um futuro brilhante, é muito bom e tem apenas 22 aninhos. Ele deve estar na Corrida das Pontes em Recife (25/03)”, afirma, acrescentando que o atleta também deve disputar algumas etapas do Circuito Caixa.

Ao comentar sobre a Luasa, outra equipe com corredores de elite africanos no País, Coquinho exalta seu pioneirismo. “Não tenho essas coisas (de rivalidade). Estou anos à frente, mas tem espaço para todo mundo”, encerra.


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