Há conhecimentos já bem sedimentados. Uma das primeiras evidências confirmou o fato de que quanto mais cedo a criança é exposta a diferentes línguas, melhor será o processamento fonológico, e, portanto, a criança irá aprender a falar sem sotaque e adquirir as nuanças da língua como um nativo.
Um aspecto que também foi muito estudado são as vantagens secundárias decorrentes de aprender uma nova língua. É algo que vai muito além de apenas entender e falar outro idioma, pois requer identificar e antecipar em que língua falará um determinado interlocutor e um ajuste rápido dos circuitos cerebrais que serão inibidos ou ativados para que saia a resposta na língua correta.
Os estudos reforçam a contribuição do bilinguismo para o desenvolvimento das chamadas “funções executivas” – que envolvem o controle da atenção e a capacidade de planejar e antecipar ações: crianças e adultos com proficiência em duas línguas apresentam melhor desempenho em tarefas que requerem mudar ou inibir uma resposta previamente adquirida. Ou seja: são mais ágeis para usar o cérebro e mais flexíveis para adaptá-lo a novas situações.
Um terceiro aspecto também já bem consolidado refere-se às vantagens de uma aprendizagem simultânea vs. sucessiva, pois nesses casos as palavras das duas línguas ficam armazenadas e relacionadas em áreas mais próximas do cérebro, facilitando o acesso e o intercâmbio entre as mesmas, e tornando o processamento mais automático, rápido e eficiente.
Um estudo publicado em agosto de 2017 por pesquisadores do Baby Lab da Universidade de Princeton traz novas luzes ao tema e mostra que as mesmas características de bilíngues adultos já se encontram presentes em bebês de 20 meses: eles são capazes de mudar de uma língua para outra com a mesma facilidade, ou seja, sem custos adicionais de processamento pelo cérebro.
Para demonstrar esse aspecto, os pesquisadores usaram estratégias criativas para medir a dilatação da pupila – um indicador de esforço cognitivo. O estudo prova, entre outras coisas, que as crianças aprendem e processam palavras de línguas diferentes (como “cão” e “dog”) como pertencentes a línguas diferentes, e não como dois nomes de um mesmo animal.
Entre outros avanços, esse estudo ajuda a explicar a vantagem cognitiva dos bilíngues, que talvez esteja mais relacionada com a experiência de ouvir e processar duas línguas ao mesmo tempo – e não apenas com a prática de falar duas línguas. Uma diferença sutil, mas importante.
Em um mundo cada vez mais globalizado, o domínio de uma língua adicional traz enormes vantagens para os indivíduos e para a sociedade. Cada vez mais se torna claro que seria muito mais eficiente ensinar línguas estrangeiras nas creches e pré-escolas – um desafio não trivial, mas que certamente traria enormes ganhos cognitivos para a população.