Jovem que saiu de aula online para cobrir quarto sem telha terá luz em casa

As condições precárias em que vive um aluno de Sarandi (PR), a 419 km de Curitiba, aos poucos estão ficando no passado. No último dia 13, o estudante Lucas Rodrigues Monteiro, 12, teve que se ausentar da aula para ajudar a cobrir sua casa com lona. Sem telhado, o local corria risco devido à proximidade de um temporal.

A situação assustou a professora de história Elaine Bogo, 52. Ela fez uma publicação nas redes sociais e gerou uma onda de solidariedade. Inicialmente, conseguiu arrecadar R$ 3.700. Depois, mais R$ 9.000. O dinheiro está sendo usado para comprar material de construção e pagar dois pedreiros que vão finalizar a obra da casa.

O banheiro da residência é um dos pontos em reforma. No local, a família toma banho de mangueira e com água gelada, porque ainda não há eletricidade no local. Há outro banheiro na residência, mas sem piso, de chão batido.

Em meio às obras, a professora descobriu uma dívida da família com a compra dos primeiros materiais de construção. O valor ainda é desconhecido, mas Elaine pretende usar o dinheiro arrecadado também para liquidar a conta.

Além disso, o garoto recebeu um computador e a garantia de ter internet para não perder as aulas. A conexão vai ser paga por um empresário do ramo que atua na região. Apesar disso, a casa continua sem luz.

Segundo Elaine, a energia deve ser ligada na próxima sexta-feira (26), o que vai garantir mais conforto para a família. A professora conta que não para de receber ligações e mensagens nas redes sociais. "Eu não estou dando conta de administrar tudo isso."

Ela ainda se pega surpresa com tamanha solidariedade das pessoas, a maior parte desconhecidas. "É muito louco tudo isso, como as pessoas se envolveram, a resposta das pessoas foi sensacional."

"Como assim não tem telhado", perguntou a professora

No dia 13, o menino pediu para se ausentar por 15 minutos da aula para ajudar a mãe a colocar a lona para cobrir a casa. "Eu perguntei: 'Como assim não tem telhado?'. E ele disse: 'Depois eu te explico, professora'. Ele saiu da aula e não conseguiu voltar", conta Elaine.

Incomodada com a situação, a professora decidiu ver de perto as dificuldades da família. Deparou-se com uma casa em construção e sem energia elétrica. Para poder acompanhar as aulas, o estudante recarrega o celular num vizinho. O aparelho, que serve de quebra-galho para toda a família, nem sempre mantém a carga até o final das aulas. "Tem dias que termina às 16h ou às 17h, próximo do final da aula", contou o menino.

A mãe do menino, Licélia Rodrigues, 51, explicou que a família veio de Cláudia (MT) para o Paraná em março. Inicialmente foram morar na casa dos avós do menino, mas acabaram se desentendendo. Após cerca de dois meses no Paraná, a família decidiu morar na casa ainda em construção.

"Nós ficamos 12 dias no relento. Só tinha lona para cobrir as nossas roupas. Eu não desejo o que eu passei a ninguém, foi muito difícil", conta a mãe de Lucas.

No dia que o garoto teve que sair mais cedo da aula, a chuva não atingiu pertences. Mas, dias depois, a família foi pega de surpresa e colchões do menino e da sua irmã, Luna, de nove anos, acabaram molhados.

A família se mantém com o dinheiro da aposentadoria do pai e ainda do corte de cana-de-açúcar, feito por dois irmãos do menino, de 18 e 19 anos. A situação de precariedade fez a professora se mobilizar. Inicialmente usou o dinheiro para comprar um poste e caixa de luz —só aí foram R$ 1.600. Também foram adquiridos 2.000 tijolos, areia e cimento para ajudar a finalizar a obra.

comente esta matéria »